APRENDIZAGEM
AMOR FATI
VIDA, ORDINÁRIA
ESQUECIMENTO E ESCRITA: DA AUSÊNCIA DE MÉTODO Para Márcia Fraser foi antes quando a vida aparecia nua eu vivia a alegria daqueles tempos uma alegria enorme eu a segurava forte entre os dentes respirava e observava minha respiração eu era um monge no alto de uma montanha esquecendo-me que vivia um escafandrista no fundo do oceano medindo o mar com colherinhas de café um ator de teatro kabuki improvisando um texto milenar sobre a técnica do improviso aprovava a minha vida com determinação e delicadeza um grande sim apontando para o futuro e foi assim que desci da montanha emergi das profundezas saí do palco sentindo-me preparado para cumprir os mesmos planos viajar sem abandonar meu corpo leve de gestos mínimos continuava respirando e mantendo meus hábitos de filigranas aos poucos, no entanto fui deixando para trás a vida concentrei-me em realizar novos planos as grandes realizações que traçava e com isso as rotinas se atropelaram fiquei perdido em meio ao tráfego esperando o bonde para seguir viagem mas não existem mais bondes e os ônibus levam multidões desgovernadas para um mesmo lugar segui, então, a pé pela estreita calçada e cheguei até esta casa onde moro acompanhado pelos cães perdi meus dias, meus horários, meus diários e hoje não quero mais escrever para esquecer que um dia possuí uma vida nua respirei o ar do mundo e beijei o vento todas as manhãs hoje quero tão só esquecer para escrever como quem toma o primeiro gole e se enamora do que apenas vive sob o céu |
BORDERLINE
A PLENITUDE O VAZIO A VIDA
JUVENÍLIA adolescentes inventam alfabetos coreografam saltos no paraíso de seus corpos, experimentam a sensação de respirar uma linguagem sem script a arte & a perícia, o mergulho no riso & a louca contaminação da vida no exercício diário de morder sonhos no corpo-a-corpo abrindo atalhos nas virilhas e ombros na força em erguer pontes em seus membros, eles queimam sóis por dentro para que as manhãs gritem sua exterior mudez sobre as delicadas superfícies do futuro que só desejam o puro acontecimento |
O DEMÔNIO DA INAPTIDÃO
PÓS-ESCRITO
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Sandro Ornellas (Brasília-DF, 1971). Professor de literatura na Universidade Federal da Bahia, publicou o livro de poemas Simulações (Salvador: Prêmio Fundação Casa de Jorge Amado/Braskem para autores inéditos, 1998) e participou das antologias Concerto lírico a quinze vozes (Salvador: Aboio Livre, 2004) e Tanta poesia (Salvador: Banco Capital, 2006). É colaborador regular da revista online Verbo 21 de Cultura e Literatura e possui ensaios publicados em revistas acadêmicas especializadas. Vive em Salvador, Bahia, e escreve o Simulador de Vôo.
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